Nessas minhas andanças pelo mundo, certa feita, já tarde da noite esbarrei como por acaso em Don Juan. Sim. Exatamente essa figura folclórica que vocês estão pensando. O sedutor de marca maior que aparece pelas cidades do mundo ao longo dos séculos, aqui e ali, exercendo todo o poder do seu mito.Estava ali na minha frente, em terras Tupiniquins.
Sentamos em uma mesa e abrimos o vinho. Estudei-lhe a face. Já não trazia mais o élan de outrora. O sorriso já não mais lhe caia esticado numa pele macia e bem assentada, Entretanto não se podia negar que estava irresistível como sempre, e sua beleza estava plena como nunca.
-Don Juan! Há quanto tempo! Como pode ser?
Contei-lhe sobre as minhas viagens pelo mundo. E por fim lhe perguntei sobre suas ultimas aventuras amorosas, ao que me respondeu.
- Qual o quê? Deixei de lado tudo aquilo. Após todos esses anos passei a me importar um pouco mais com as pessoas que se dedicam a mim.
Nunca! Don Juan? Que absurdo! O despeito da minha juventude não me deixou pacificar.
- Ora Don Juan. Sejamos mais modestos. Seu tempo já passou. Era hora mesmo de aposentar as ceroulas.
Seu sorriso estampado, com aquele velho e gostoso ar de deboche. Seu dedo passeava pela borda da taça de vinho. Ele olhava pra mim e sorria. Sorria da minha ingenuidade. Quase que com indulgência. Depois de se demorar deliciando-se da minha cupidez, enfim me desferiu com suavidade:
- Meu caro amigo, você bem sabe que posso ter, do mundo inteiro, a mulher que quiser aos meus pés com um simples estalar de dedos.
Verdade inabalável. Meu último e desesperado golpe foi:
- Então vai me dizer que simplesmente não deseja mais ninguém?
- Muito pelo contrário – me respondeu Don Juan. – desejo sim.
- E então?
- Só que sei que deixá-las aos meus pés não basta. Eu nunca poderia lhes saciar o amor que inspiro, porque não as amo de verdade.
Tartamudeei algo como:
- E desde quando isso faz diferença pra você?
- Ora, então não sabe que chamam a mim, Don Juan, o melhor amante do mundo?
- Claro que sei – respondi.
- Pois então?! Se não pudesse eu corresponder ao amor das minhas amantes, não seria eu o pior amante do mundo?
E me deixando no ar essa última frase ele se foi. Minha cabeça a mil. Em se tratando de Don Juan certamente aquilo era um engodo. Mas de alguma maneira lá no fundo, ele tinha toda a razão.
5 comentários:
Da próxima vez diga a ele que mandei lembranças!!
A propósito... Estamos de bem?
Para esse texto uma palavra...TALENTO...para tornar algo simples, prazeroso e cheio de charme....
muito bom mesmo...gostoso de ler, de refletir...e concordo, o don juan no fundo tem razão...a divisão entre conquistar e ser um bom amante...enfim, nota DEZ..ahuaauah
a propósito, adoroti....
bjsss.....
comentário 1: eu concordo com ele... mas não insista, você não concorda não...
comentário 2:Pensei que ele tivesse morto e já reencarnado... bem que percebi que aquele maldito calhorda era um Don Juan de quinta...
(qualquer semelhança é mera coincidência)
Estreando por aqui grande Baère!!!
Bom figura insígnia essa "Don" não?
Seria o emblemático o desejo de todas as mulheres?ou seria o sonho de personificação de todos nós homens?
* * *
Deduções a parte o texto é rico e possivel de construção imaginária!
"Seu dedo passeava pela borda do vinho,ele olhava pra mim e sorria"
neste momento pintou um clima rsrs...
* * *
Grande Baère peço permissão pra divulgar o meu blog:
betoguedes.blogspot.com
abração!
gostei. uma outra perspectiva de don juan, interessante, simples e realista. parabéns.
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