quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O porquê de fazer teatro. (ou O beijo)


Um belo dia, na estrada da minha vida eu caminhava perenemente. Num daqueles dias em que tudo conspira pra te deixar vagamente idiota. Enfim, caminhava eu, pela estrada da vida, feliz e assobiando qualquer canção daquelas com melodias melosas que a gente ouve quando acorda e que ficam na cabeça o dia todo. Feliz. Sim, acho que estava feliz.

Eis que do nada, como que por magia, Dionísio em pessoa me aparece à frente. Figura singular, viu?! Não satisfeito em me aparecer do nada, ante a minha reação de surpresa, ele apenas sorriu, e em seguida atirou-se contra mim e me beijou.

Não foi um beijo romântico. Eu diria que foi até um tanto quanto violento. Mas é inegável: foi bom. Um segundo em que passam mil coisas na sua cabeça, como uma descarga elétrica.Um raio. E do nada, como veio, se foi. E eu fiquei ali, parado, que nem um dois de paus, olhando fixamente pra lugar nenhum como se interrogasse o vazio, por algo que ele não me fez.

Passaram-se dias, meses então. Eu, exatamente como acontece com quem se apaixona, primeiro neguei veementemente. Era absurdo.Um disparate. Provavelmente um delírio da minha cabeça. Um delírio simplesmente arrebatador, como só os gênios e os loucos podem experimentar. Mas como eu não era nem gênio, nem louco, só podia negar e dizer que fora um delírio momentâneo.

Quase dois anos se passaram, desde o fatídico beijo. E seguindo, como alguém que tivesse visto a verdade mas não pudesse contar ao mundo, eu ia. Tentei enveredar pela publicidade, pelo direito, por letras (português-latim), e até por psicologia. E não é que não desse certo. Eu até conseguia as vagas em universidades publicas, cargos em funcionalismo publico. Mas sempre havia algo. Não fazia a matricula, não tinha o documento tal. Não era chamado a tempo. Muito tempo depois fui entender que, no fundo era eu mesmo mancumunado com o mundo, me sabotando. Ficava sempre lá no fundo aquela sensação de que sabia de algo inconfessável. E agora me sobrevinha uma febre: sensação de que estava me enrolando e perdendo tempo.

Nesses tempos eu acordava de noite no pesadelo. Um homem todo de branco com discretos chifres de carneiro me beijava e ria. Ria a valer. Ás vezes, ele me punha um nariz de palhaço e em seguida me dava um belo tapa na cara. Este tapa quase sempre se mesclava com um som louco, que crescia, e se tornava ensurdecedor até me acordar: eram aplausos.

Quando ele vinha, sempre vinha louco. Ás vezes em turba barulhenta. Talvez fosse seu séquito que aplaudisse tão alto. E ria. Nunca dava tempo de nada.

Um dia, me apareceu sem turba e acompanhado de uma única pessoa que vinha, de certa forma, tentando subjugá-lo. Era ninguém menos que Apolo. Por fim entraram os dois em acordo e Dionísio aceitou me ouvir.

Eu tentei argumentar de todas as formas. Expliquei que não tinha talento, que essas coisas nascem com você. Depois expliquei que não tinha contatos no meio artístico e que seria difícil conseguir emprego. Por fim disse que precisava ter dinheiro na vida pra ser feliz. Argumento baixo, admito, mas honesto.

Eu falava sem parar e Dionísio me ouvia. Mas ria. Já Apolo contra-argumentava sistematicamente. Explicou-me que quem faz o que ama, faz bem e por isso alcança reconhecimento. Me mostrou que no mundo atual no Brasil, não importa a carreira, vai ser difícil arrumar emprego em qualquer área. Me disse que dinheiro é consequência de bom trabalho e dedicação. Por fim Apolo me deu uma das lições mais importantes. Me explicou que o talento não nasce com ninguém. Está em amar a profissão. Esse é o verdadeiro talento. Amor e dedicação incondicional. Não há erro, ou incapacidade que resistam a isso.

A essas alturas, minha cabeça ia a mil, havia qualquer coisa de suspensão ali. Estava acabado: Apolo me “desargumentou” completamente. Dionísio havia parado de rir. Instalou-se uma atmosfera de seriedade, tensão e iniciação. Por fim, Dionísio sorriu e perguntou:

- Você ama o Teatro?

Com lágrimas nos olhos deixei-me cair de joelhos. Completamente entregue à minha sorte e paixão.

- Amo!

Eles me levantaram. Dionísio se aproximou de mim:

- Incondicionalmente?

- Incondicionalmente – respondi.

Ele então me abraçou e sussurrou no meu ouvido:

- Então apesar de tudo você será feliz.

E com essa nota de mistério empurrou-me com a ponta dos dedos. Eu cai de alturas imensas. E acordei mais uma vez.

Poucos dias depois eu entrava pro Tablado, e em alguns meses, entrava na Martins Pena.

Nunca mais consegui deixar o teatro. Mergulhei em águas profundas e caóticas. Se tornou parte de mim, onde quer que eu vá. Uma parte simplesmente grande demais, e por isso mesmo, impossível de ser deixada para trás.

Porque fazer teatro? Por amor. Pelo amor de todo dia.

domingo, 2 de março de 2008

Don Juan



Nessas minhas andanças pelo mundo, certa feita, já tarde da noite esbarrei como por acaso em Don Juan. Sim. Exatamente essa figura folclórica que vocês estão pensando. O sedutor de marca maior que aparece pelas cidades do mundo ao longo dos séculos, aqui e ali, exercendo todo o poder do seu mito.Estava ali na minha frente, em terras Tupiniquins.

Sentamos em uma mesa e abrimos o vinho. Estudei-lhe a face. Já não trazia mais o élan de outrora. O sorriso já não mais lhe caia esticado numa pele macia e bem assentada, Entretanto não se podia negar que estava irresistível como sempre, e sua beleza estava plena como nunca.

-Don Juan! Há quanto tempo! Como pode ser?

Contei-lhe sobre as minhas viagens pelo mundo. E por fim lhe perguntei sobre suas ultimas aventuras amorosas, ao que me respondeu.

- Qual o quê? Deixei de lado tudo aquilo. Após todos esses anos passei a me importar um pouco mais com as pessoas que se dedicam a mim.

Nunca! Don Juan? Que absurdo! O despeito da minha juventude não me deixou pacificar.

- Ora Don Juan. Sejamos mais modestos. Seu tempo já passou. Era hora mesmo de aposentar as ceroulas.

Seu sorriso estampado, com aquele velho e gostoso ar de deboche. Seu dedo passeava pela borda da taça de vinho. Ele olhava pra mim e sorria. Sorria da minha ingenuidade. Quase que com indulgência. Depois de se demorar deliciando-se da minha cupidez, enfim me desferiu com suavidade:

- Meu caro amigo, você bem sabe que posso ter, do mundo inteiro, a mulher que quiser aos meus pés com um simples estalar de dedos.

Verdade inabalável. Meu último e desesperado golpe foi:

- Então vai me dizer que simplesmente não deseja mais ninguém?

- Muito pelo contrário – me respondeu Don Juan. – desejo sim.

- E então?

- Só que sei que deixá-las aos meus pés não basta. Eu nunca poderia lhes saciar o amor que inspiro, porque não as amo de verdade.

Tartamudeei algo como:

- E desde quando isso faz diferença pra você?

- Ora, então não sabe que chamam a mim, Don Juan, o melhor amante do mundo?

- Claro que sei – respondi.

- Pois então?! Se não pudesse eu corresponder ao amor das minhas amantes, não seria eu o pior amante do mundo?

E me deixando no ar essa última frase ele se foi. Minha cabeça a mil. Em se tratando de Don Juan certamente aquilo era um engodo. Mas de alguma maneira lá no fundo, ele tinha toda a razão.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Lembranças de outrora (ou 9 luas)


Jogos de Massacre - Formatura da Martins Pena de janeiro de 2007

Eu quis querer o que o vento não leva
Pra que o vento só levasse o que eu não quero
Eu quis amar o que o tempo não muda
Pra que quem eu amo não mudasse nunca

Eu quis prever o futuro
Consertar o passado
Calculando os riscos
bem devagar, ponderado
Perfeitamente equilibrado

Até que um dia qualquer
eu vi que alguma coisa mudara
Trocaram os nomes das ruas
e as pessoas tinham outras caras,
no céu havia nove luas
e nunca mais encontrei minha casa.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Primeiro Sonho do Ano

Era um sonho. Beijou-me. Eu nem sei de onde veio. De repente, ela estava ali. Em cima de mim.
Um beijo rapido. Parou e me olhou com um olhar enigmático. Voltou a beijar, agora tão longa e intensamente, que quando parou de novo seus lábios já tintos estavam mais vermelhos que de costume, contrastando fortemente com sua pele branca. Olhou-me novamente.
Que podia dizer eu?
- Eu não sabia.
Estava confuso.
-Não importa.- respondeu-me -Olha. Já vai acabar. Mas fica sabendo: foi bobeira sua.

Acordei.

Veio tudo junto na hora. Eu que falei pra ela "Linda, pena que não é pro meu bico."
E o espectro do sonho, ainda desvanescendo na minha frente sorria:
"Era sim. Você que deu mole: Foi bobeira sua."

É, ela até era pro meu bico. Deixou de ser quando falei isso. Que pena.

Primeiro sonho do ano.