domingo, 2 de março de 2008

Don Juan



Nessas minhas andanças pelo mundo, certa feita, já tarde da noite esbarrei como por acaso em Don Juan. Sim. Exatamente essa figura folclórica que vocês estão pensando. O sedutor de marca maior que aparece pelas cidades do mundo ao longo dos séculos, aqui e ali, exercendo todo o poder do seu mito.Estava ali na minha frente, em terras Tupiniquins.

Sentamos em uma mesa e abrimos o vinho. Estudei-lhe a face. Já não trazia mais o élan de outrora. O sorriso já não mais lhe caia esticado numa pele macia e bem assentada, Entretanto não se podia negar que estava irresistível como sempre, e sua beleza estava plena como nunca.

-Don Juan! Há quanto tempo! Como pode ser?

Contei-lhe sobre as minhas viagens pelo mundo. E por fim lhe perguntei sobre suas ultimas aventuras amorosas, ao que me respondeu.

- Qual o quê? Deixei de lado tudo aquilo. Após todos esses anos passei a me importar um pouco mais com as pessoas que se dedicam a mim.

Nunca! Don Juan? Que absurdo! O despeito da minha juventude não me deixou pacificar.

- Ora Don Juan. Sejamos mais modestos. Seu tempo já passou. Era hora mesmo de aposentar as ceroulas.

Seu sorriso estampado, com aquele velho e gostoso ar de deboche. Seu dedo passeava pela borda da taça de vinho. Ele olhava pra mim e sorria. Sorria da minha ingenuidade. Quase que com indulgência. Depois de se demorar deliciando-se da minha cupidez, enfim me desferiu com suavidade:

- Meu caro amigo, você bem sabe que posso ter, do mundo inteiro, a mulher que quiser aos meus pés com um simples estalar de dedos.

Verdade inabalável. Meu último e desesperado golpe foi:

- Então vai me dizer que simplesmente não deseja mais ninguém?

- Muito pelo contrário – me respondeu Don Juan. – desejo sim.

- E então?

- Só que sei que deixá-las aos meus pés não basta. Eu nunca poderia lhes saciar o amor que inspiro, porque não as amo de verdade.

Tartamudeei algo como:

- E desde quando isso faz diferença pra você?

- Ora, então não sabe que chamam a mim, Don Juan, o melhor amante do mundo?

- Claro que sei – respondi.

- Pois então?! Se não pudesse eu corresponder ao amor das minhas amantes, não seria eu o pior amante do mundo?

E me deixando no ar essa última frase ele se foi. Minha cabeça a mil. Em se tratando de Don Juan certamente aquilo era um engodo. Mas de alguma maneira lá no fundo, ele tinha toda a razão.

5 comentários:

Priscilla Franco disse...

Da próxima vez diga a ele que mandei lembranças!!

A propósito... Estamos de bem?

Sabrina disse...

Para esse texto uma palavra...TALENTO...para tornar algo simples, prazeroso e cheio de charme....
muito bom mesmo...gostoso de ler, de refletir...e concordo, o don juan no fundo tem razão...a divisão entre conquistar e ser um bom amante...enfim, nota DEZ..ahuaauah

a propósito, adoroti....

bjsss.....

Tamires Nascimento disse...

comentário 1: eu concordo com ele... mas não insista, você não concorda não...

comentário 2:Pensei que ele tivesse morto e já reencarnado... bem que percebi que aquele maldito calhorda era um Don Juan de quinta...

(qualquer semelhança é mera coincidência)

@GuedesBetho disse...

Estreando por aqui grande Baère!!!

Bom figura insígnia essa "Don" não?

Seria o emblemático o desejo de todas as mulheres?ou seria o sonho de personificação de todos nós homens?

* * *

Deduções a parte o texto é rico e possivel de construção imaginária!

"Seu dedo passeava pela borda do vinho,ele olhava pra mim e sorria"
neste momento pintou um clima rsrs...

* * *
Grande Baère peço permissão pra divulgar o meu blog:
betoguedes.blogspot.com
abração!

Anônimo disse...

gostei. uma outra perspectiva de don juan, interessante, simples e realista. parabéns.