quarta-feira, 27 de junho de 2007

O dia em que o impossivel aconteceu.

Teatro lotado. Imaginem um teatro do tamanho do municipal. É quase opressivo imaginar o municipal lotado. Delicia, não? Bem, enfim...
Aquele palcão gigantesco. E a peça não ajuda muito: é Beckett, a boa e velha Esperando Godot, como era de se esperar. Como nós todos sabemos, os cenários de Beckett são vazios, assim como a ausencia da trama, e etc...
Bom, nada aumenta mais um enorme palco vazio com uma opressiva plateia do que um cenário vazio.
Lá no centro, perto da única arvore q é o cenário estão eles. Os imortais Vladimir e Estragon. Os vagabundos com seus eternos trapos de roupa e tudo está dentro do conforme na cena.
Os criticos mais ferozes estão presentes, e tudo parece ser a grande noite.
Numa ocasião tensa como essa o ator se sente muito apegado ao seu trabalho... tudo pela ação dramatica, mesmo q essa ação seja não ter ação... Tudo vai bem nas boas gags q nos são dadas pelo autor.

Aos 45° minutos do segundo tempo, o publico já rira inumeras vezes com a repetição constante do bordão:
Estragon - Vamos embora.
Vladimir - Não podemos.
Estragon - Por que?
Vladimir - Estamos esperando Godot.
Estragon - Ah é...

Nisso entra o ator que faz o menino.
Estragon pergunta o "Quem é você? O que veio fazer aqui?" de todas as noites.
Mas o Ator responde: "Eu? Eu sou Godot. Os senhores não estavam, à minha espera?"

O primeiro verdadeiro vazio da noite. Alguns bons segundos se passaram numa inercia de não ter entendido direito. Nem criticos, nem plateia, nem atores pareciam acreditar. Depois de algum tempo bem desconcertado, o ator-estragon vira pro ator-vladimir e diz quase tendo um piripaque "Vladimir! Chegou Godot, estamos salvos"
Aquela sensação de que o mundo viria abaixo durou ainda algumas frações de segundo. Até o ator-menino-godot salvar o cú de todo mundo no recinto dizendo "é brincadeira, venho apenas trazer um recado do sr. godot."

O ator-menino-godot é um espirito de porco sem duvida. Mas quem nega que é um espirito de porco genial? se bá, Beckett teria aplaudido o cara...

sábado, 16 de junho de 2007

Profanus

Um dia, um camarada lá da Grécia foi dar a fala dele no ritual de Dionisio, e como já tinha bebido demais acabou falando na primeira pessoa. Ou teria sido ele possuido pelo deus caótico?
Enfim daí que nasceu o teatro.
(pausa)

O teatro não é uma arte pq não tem leis e regras próprias. E na realidade a culpa disso é do ator. Uma verdadeira praga, isso sim. É essa mania que eles tem de colocar emoção nas coisas e faz com q o ator estrague o Teatro. Vamos abolir o ator do teatro e usar a Sur-Marionete.
(pausa. riso breve)

O essencial para que a arte aconteça não é o artista. Nem a obra em si. Tão pouco a plateia. Talvez nem mesmo a plasticidade da coisa(como vamos concluir mais a frente). Na verdade o unico diferencial é a consciencia de ser um artista.
Não interessa o que se faz ou a qualidade disso, desde que o autor se autoproclame um artista.
(pausa. riso breve)

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¬¬ depois reclamam de crise em teatro, e na arte.
Depois reclamam que o povo prefere ver produto de massa.
Nego cospe na arte, torna a coisa promiscua, e acha q pode reclamar?
Menos discurso artistico e mais arte.

Um forte abraço, pro Graig, pra Genilda, e pra todo mundo da arte contemporanea-porralouca-babaca-estrela da arte.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A obviedade (ou o cliché do cliché)


Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,Perdem o nome de ação.